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Poemas
Poemas

Autorretrato:

Magro, de olhos azuis, carão moreno,

Bem servido de pés, meão na altura,

Triste de facha, o mesmo de figura,

Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,

Mais propenso ao furor do que à ternura;

Bebendo em níveas mãos, por taça escura,

De zelos infernais letal veneno;

 

Devoto incensador de mil deidades

(Digo, de moças mil) num só momento,

E somente no altar amando os frades,

 

Eis Bocage, em quem luz algum talento;

Saíram dele mesmo estas verdades,

Num dia em que se achou mais pachorrento.

 

— Bocage
“Eu sou Bocage Venho do Nicola Vou p’ro outro mundo Se dispara a pistola”.
quadro Café Nicola por Fernando SantosSou o poeta Bocage, venho do café Nicola [...] Quadro de Fernando Santos - «Café Nicola»

 

 

Se é Doce

Se é doce no recente, ameno Estio

Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,

E, lambendo as areias e os verdores,

Mole e queixoso deslizar-se o rio;

Se é doce no inocente desafio

Ouvirem-se os voláteis amadores,

Seus versos modulando e seus ardores

Dentre os aromas de pomar sombrio;

Se é doce mares, céus ver anilados

Pela quadra gentil, de Amor querida,

Que esperta os corações, floreia os prados,

Mais doce é ver-te de meus ais vencida,

Dar-me em teus brandos olhos desmaiados.

Morte, morte de amor, melhor que a vida.

Bocage, in 'Sonetos'

 

 

Olha, Marília, as flautas dos pastores

 

Olha, Marília, as flautas dos pastores

Que bem que soam, como estão cadentes!

Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes

Os Zéfiros brincar por entre as flores?

 

Vê como ali beijando-se os Amores

Incitam nossos ósculos ardentes!

Ei-las de planta em planta as inocentes,

As vagas borboletas de mil cores.

 

Naquele arbusto o rouxinol suspira,

Ora nas folhas a abelhinha pára,

Ora nos ares sussurrando gira.

 

Que alegre campo! Que manhã tão clara!

Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,

Mais tristeza que a noite me causara